O programador é um profissional que traduz os processos descritos pelas atividades humanas, durante uma etapa de concepção, para a linguagem do computador numa etapa de execução. Para alguém que acompanha as etapas de criação de um produto de software, cada passo da montagem pode parecer lógico e calculado. Porém, muitos detalhes podem passar despercebidos. Algumas vezes, após as fases de validação e testes falhas acabam extrapolando para o projeto final, prejudicando o produto e podem afetar negativamente a experiência do usuário.
Como um problema desses surge? A resposta é mais simples do que aparenta: falta de empatia. Raramente o programador é o primeiro usuário final do aplicativo que ele mesmo cria. Muitas vezes quem está na rotina do trabalho de desenvolvimento têm uma percepção distorcida das necessidades do usuário final. Tiago Sá, desenvolvedor e gestor de projetos de TI, atuante na área de varejo há mais de 20 anos, afirma: “Os usuários querem agilizar o dia-a-dia deles. O que normalmente pedem é para digitar menos. [...] Comecei a observar o dia a dia do processo, assim pude fazer melhorias nos sistemas. [...] Quando automatizamos os processos, agilizamos a burocracia necessária. [...] Se um desenvolvedor não estabelecer uma empatia com o usuário final, dificilmente conseguirá criar soluções amigáveis”.
Os usuários querem agilizar o dia-a-dia deles. O que normalmente pedem é para digitar menos.
Acho que a usabilidade do programa é diretamente ligada à interação do programador (ou da equipe de projeto) com o usuário real, pois o usuário sabe o que quer, e o programador já vai inventar como materializar aquilo.
A relação entre o programador e o usuário vai além de uma fase de homologação, adaptação e testes. O programador está criando a ferramenta de trabalho de uma pessoa, e muitas vezes a ferramenta precisa ser adaptada às necessidades de cada um. Doutor Jakub Krejci, clínico geral do SUS, empreendedor, criador da plataforma Panther HMS, explica o porquê de precisar de um sistema customizado: “Comecei a criar o macro com user interface em Excel, para atender as minhas necessidades. [...] Tentei trabalhar inicialmente com sistemas dos outros, mas sempre esbarrava na inconsistência com os requisitos do SUS. [...] Acabei entrando em contato e parceria com o Jambú Tecnologia com o pedido de criar o sistema de gerenciamento de clínica. De lá pra cá começou a jornada o projeto Panther. Acredito que tenho bastante proximidade com os programadores e eles estão literalmente programando as minhas ideias”
Essa cooperação entre as partes envolvidas no trabalho pode ser específica para cada segmento, e a ideia de cooperar em um projeto de TI pode parecer intimidadora para um leigo, mas é fácil achar alguém que esteja disposto a participar de testes por boa vontade. Aline Machado, tutora de EAD da UFPA afirma que “Como professora sempre procuro metodologias e ferramentas que ajudem meu aluno, dessa forma, aceitaria participar para um fim bem maior: a educação. [...] O educando sabe o que afeta e o que ajuda na sua aprendizagem.”
É importante perceber que não é só o feedback que importa, mas sim a comunicação constante e interação entre pessoas com diferentes perspectivas que transforma um projeto funcional em um projeto profissional. Um profissional que bloqueia as críticas e opiniões não vai longe. No final das contas, o cliente precisa de uma ferramenta que facilite o próprio trabalho e o ajude no desenvolvimento de suas atividades e só através da cooperação o projeto pode atingir excelência. Dr Jakub completa: “Acho que a usabilidade do programa é diretamente ligada à interação do programador (ou da equipe de projeto) com o usuário real, pois o usuário sabe o que quer, e o programador já vai inventar como materializar aquilo”.